Manifesto Ciência Portugal 2011
Este Manifesto foi apresentado à comunidade em 2011 e gerou mais de 2000 subscrições, vários artigos e peças nos órgãos de comunicação social. A sua subscrição está fechada.
Ciência – fonte de ideias para inovar Portugal
A investigação científica é um motor de inovação indispensável para ultrapassar a actual crise económica.
Ao longo de sucessivos governos Portugal investiu na criação de uma comunidade científica internacionalmente reconhecida e competitiva. Este investimento, em recursos humanos e investigação, permitiu a criação de empresas de base tecnológica e científica, como a Critical Software, Biotecnol, Alfama e Ydreams, entre muitas outras, que geraram centenas de empregos, estão representadas em vários países e atraíram substancial investimento internacional. A nível académico, o investimento em Ciência permitiu a formação de equipas de investigadores capazes de atrair milhões de euros em financiamento internacional altamente competitivo, de entidades como o Conselho Europeu de Investigação, o Howard Hughes Medical Institute, o Human Science Frontiers Program e a Bill & Melinda Gates Foundation que sustenta centenas de postos de trabalho altamente qualificados.
Estamos no bom caminho para desenvolver a massa crítica, as ideias e os projectos que noutros países, incluindo os de dimensão comparável à de Portugal, gerou empreendedorismo com grande impacto económico e social. Importa por isso continuar a apostar neste caminho de forma continuada e sustentável.
É nossa convicção que uma política estruturada de ciência é fundamental para garantir a competitividade das instituições científicas nacionais e assegurar a solidez e continuidade do investimento em recursos humanos altamente qualificados. Por ser potenciadora de mais-valias praticamente inesgotáveis a ciência deve, na nossa opinião, constituir um desígnio nacional suprapartidário e uma área de investimento prioritário baseado numa estratégia claramente definida a longo prazo.
Os cientistas, portugueses estão empenhados em garantir a sustentabilidade da ciência, e querem ser actores da mudança qualitativa de que necessitamos no nosso País. O desenvolvimento científico e tecnológico nacional é importante para todos. Assim defendemos:
- · A investigação fundamental é a base de sustentação de qualquer área de aplicação, por ser essencial à criação de ideias inovadoras e dos recursos humanos capazes de gerar valor económico. Como tal, deve ser apoiada de forma contínua e sustentada.
- · A promoção de uma cultura de excelência consegue-se apostando no mérito: nas melhores equipas, nas melhores instituições e nos melhores projectos, avaliando os resultados por objectivos e com grande exigência, e tirando consequências da avaliação. A excelência gera excelência!
- · O desenvolvimento científico e tecnológico do País não é compatível com estratégias de curto prazo – exige-se uma visão de longo termo envolvendo as várias forças políticas, e objectivos concretos indispensáveis a uma avaliação objectiva da sua implementação e das mais-valias que trouxerem ao país.
A gestão da ciência e tecnologia em Portugal tem de obedecer aos mesmos critérios de excelência e eficiência exigidos aos cientistas, nomeadamente na execução financeira transparente, atempada e desburocratizada, e na concretização de objectivos que deverão ser alvo de avaliação externa. Não é possível a programação de actividades de I&D num quadro de imprevisibilidade de financiamento e de crescente burocratização.
A nossa sociedade está cada vez mais dependente de actividades de cariz tecnológico, seja na gestão de recursos naturais ou na resposta a problemas de saúde pública, entre outros. Estas actividades necessitam de financiamento próprio, articulado com os respectivos ministérios da tutela e com autoridades e empresas locais. Não podemos continuar confundir, ao nível orçamental, a actividades de carácter tecnológico e investigação científica.
Para que Portugal possa aumentar a sua competitividade necessita de envolver os seus melhores cientistas e atrair os melhores do estrangeiro, sendo indispensável definir carreiras científicas competitivas a nível internacional.
Estamos seguros que Portugal poderá vencer o desafio da modernização, e a aposta nas pessoas e na inovação é o caminho mais seguro. Queremos ajudar!
Proponentes
Jose Pereira-Leal – Inst. Gulbenkian de Ciencia
Monica Bettencourt-Dias – Inst. Gulbenkian de Ciencia
Miguel Godinho Ferreira – Inst. Gulbenkian de Ciencia
Sergio Dias – Inst. Português de Oncologia
Maria Mota – Inst. Medicina Molecular
António Jacinto – Inst. Medicina Molecular
Leonor Saúde – Inst. de Medicine Molecular
Margarida Trindade – Inst. Medicina Molecular
Susana Lopes – Centro de Doenças Crónicas
Rui Costa – Fundação Champalimaud
Carlos Ribeiro – Fundação Champalimaud
Nuno Arantes Oliveira – Alfama